Balada de Gisberta

Gilberto, ou melhor Gisberta. Transexual brasileiro, morava na cidade do Porto, Portugal. Morador de rua, soropositivo, prostituta, toxicodependente, por 2 anos sofreu perseguições físicas e morais de um grupo de adolescentes. No dia 19 de Fevereiro de 2006, um grupo de 14 garotos com idades entre 12 e 16 anos entraram no prédio onde ela dormia, a amarraram, amordaçaram-na e a agrediram com pontapés, paus e pedras. Retornaram ao local na madrugada de 21 para 22 do mesmo mês, repetiram as agressões e a jogaram no fundo de um poço, com a intenção de ocultar o corpo.

O compositor Pedro Abrunhosa, fez essa linda homenagem a Gisberta, gravada pela Bethânia.

BALADA DE GISBERTA
(Pedro Abrunhosa)

Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta para o nada.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
O fim quer me buscar.
Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim quer me buscar.
Trouxe pouco,
Levo menos,
A distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe
O amor é tão longe
O amor é tão longe...

Até quando o "diferente" terá que ser punido com tanta violência?